sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Dona Elisa










Todos os dias quando me levantava abria a janela para ver o tempo e la estava ela sentada na varanda pegando sol, quando ficava muito quente ela puxava a cadeira para a sombra, estava sempre bronzeada. Às vezes caminhava pelo quintal bem devagar, a idade já não lhe permitia muita agilidade e com a bengala mexia em uma planta em outra, a tarde descansava.
Depois das 18 h acendia a luz e sentava na sua cadeira na varanda e ficava ali olhando o movimento da rua, sempre tinha filhos, ou netos conversando com ela, nunca estava sozinha, ficavam até dez horas depois iam embora, ela ficava na varanda acenando, depois levantava e com a bengala empurrava o tapete entrava fechava a porta e ia dormir. Eu ficava admirada por que ela dormia sozinha, sendo já tão idosa.
Passado um tempo uma cuidadora passou a cuidar dela.
Todo dia às sete e meia da manhã lá estava ela andando bem devagarzinho de um lado a cuidadora do outro a bengala.
Conheci dona Elisa há muitos anos eu tinha vinte e um anos de idade e ela já era avó de netos grandes, era festeira, apesar da diabete, gostava de beber uma cerveja, me contou que uma de suas filhas fazia excursões e que ela não perdia uma, ela realmente foi feliz, viveu os momentos que lhe foram dados, não admira que morava sozinha e não padecia de solidão, sempre foi independente, e depois nunca estava só, havia sempre alguém do seu lado. Gostava da liberdade de morar em sua própria casa.
Um dia não me lembro bem qual foi ela não apareceu na varanda, percebi um movimento estranho na casa de outras pessoas, fiquei preocupada e se ela estivesse doente?
Passou algum tempo, não sei se dias ou semanas e uma pessoa me disse que ela havia falecido.
Como assim? Já tem tanto tempo que eu não há vejo? Fui até a janela já era de tarde aquela era a hora do seu provável descanso, olhei para a casa e parecia que ela ainda estava lá, senti uma sensação de perda, há quanto tempo eu a via na varanda, aquele cenário fazia parte da vista da minha janela, ele se desfez e eu nem vi, fiquei chocada.
Pelo resto da tarde eu olhei a casa várias vezes, fiquei imaginando que todos os seus pertences pessoais ainda estavam la, sua fotos, seus documentos, sua história de vida.
Em uma das vezes observei como era simpática a sua casa pintada de amarelo com acabamento branco e na frente do quintal um pequeno jardim, as plantinhas e as flores continuavam lindas totalmente alheias ao que havia acontecido.
Até que escureceu e pela primeira vez vi a varanda apagada e a sua cadeira vazia, a casa mergulhada na escuridão permanecia silenciosa, guardando luto de uma figura tão querida, aprendi a admirar aquela senhora, vai com Deus Dona Elisa, a senhora me mostrou como é envelhecer sem ficar velha.


Rio 02/09/2009 16:44 hs

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